Quis o acaso que, enquanto vigiava sonolentamente exames na Faculdade deparasse com um trecho acertadíssimo:
"As coisas que passam, dizia Hegel, são passagens para outra coisa. Mas há coisas que não passam - nem pela cabeça, quando existe, nem pela vida, quando ocorre. São figuras do mesmo e por vezes são substituições do mesmo. Tudo fica, se mantém, e nem vale a pena compreendê-lo porque o que vale brilha e ofusca. A luz que esclarece resulta das coisas opacas, dos mundos baços e submersos"
Nuno Júdice, Última Palavra "- Sim", & etc 1977, p. 18
Fitei o rosto perdido dos examinados de ocasião, lembrei-me dos suores frios que, nos tempos em que estava do outro lado do anfiteatro procurava a resposta possível ao inquisitório jurídico vertido sobre letra de imprensa que crescia perante mim. Lembrei-me, também, que quando começar a minha nova tese tenho de não me esquecer que "A luz que esclarece resulta das coisas opacas, dos mundos baços e submersos". Isto no Direito, que se quer claro e objectivo para bem da convivência social. Irónico, se escrever algo minimamente certo, tal coisa veio dos bas fonds intelectuais.