terça-feira, 4 de agosto de 2009

Livros e livreiros

O verdadeiro amante de livros é, sejamos honestos, um tarado: tem grande relutância a emprestar, raramente cede livros seus e dificilmente vai para algum lado sem um dos livros que o marcaram, mas, invariavelmente, gaba-se de uma qualquer edição que teve trabalho a arranjar ou, pura e simplesmente, fica a contemplar, horas e horas, o que a paciência foi coleccionando nas prateleiras das estantes.
Mais importante, o verdadeiro amante de livros é alguém que respeita aquele que lhos vende, seja o comum livreiro ou o alfarrabista. Em Lisboa há muitos, mas os que mais prezo - porque têm sempre uma conversa franca, directa e cheia de sabedoria sobre literatura, filosofia, et cetera - são o Rui Martiniano (que, paulatinamente, me encheu a biblioteca de Hienas e de livros que ora escriba sempre procurou e nunca tinha encontrado) e o Romão, da 1870 livros (que fez o providencial favor de me atafulhar com primeiras edições do Pacheco e com pequenas pérolas da &Etc). Procurem por eles num qualquer Sábado na Rua Anchieta e percebem facilmente porquê. Nos entretantos, vou refastelar-me a ler O concerto das buzinas, de Virgílio Martinho* ou Bestiário Lusitano, de Alberto Pimenta.

* A propósito, a &Etc acaba de publicar 5 cervejas para o Virgílio, de Carlos Alberto Machado. Ide ler. Vale (muito) a pena. Provavelmente não o encontrarão na Fnac, que é como quem diz: vão a uma livraria digna desse nome e não a um supermercado que já conheceu melhores dias.

4 comentários:

  1. Revejo-me completamente! Enquadro-me no perfil do tontinho. Confesso que tenho alguma vergonha que me apanhem a olhar para os meus livros, mas o prazer que um acto tão simples confere, justifica uma espreitadela furtiva!
    Estava agora mesmo a ver o blog da poesia incompleta e vim cá ter. Não resisti ao título do blog, que coincide precisamente com um dos livros que mais avidamente procuro neste momento.
    De facto, o pormenor é do Cobra e está lá para quem o quiser(puder) comprar: 500 euros! Enamorei-me porque meti na cabeça que tenho que ter todos os livros da &etc (coisas de doidinho!), mas não posso dar esse dinheiro por um livro, pelo menos por enquanto! E há sempre a esperança do prazer supremo de o encontrar a um euro na feira da ladra...
    Bom trabalho!

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  2. Sim, eu sei que está e não, não é coisa de doidinho. Eu tenho a mesma cisma relativamente à &ETC e a outra editora (a Hiena). Pra já, fico-me por 70 &ETC's (incluindo pérolas como "Campanula", "morituri te salutant" ou "branca de neve", do Walser) e 50 e poucos Hienas. O que posso acrescentar é, e cito o meu amigo alfarrabista Rui Martiano, isto: "é uma questão de calma. O livro acaba por aparecer e o preço somos nós a fazer,decidindo consoante a pressa que temos no dito".
    Quanto ao preço do exemplar em questão, posso dizer que já tenho arranjado 1as do Herberto (uma autografada) por bem menos e algumas difíceis de arranjar...o "Cobra" é que, infelizmente, não arranjei. Sei quem tenha, mas é a cópia pessoal e não vende por preço nenhum...

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  3. Concordo com o Rui. Eu além da & etc também coleccioniono outras editoras. O Rui anda a tentar convencer-me de que tenho que começar a coleccionar a hiena (até porque, não sei se sabes, ele foi o editor da hiena). Por enquanto é a & etc, afrodite, fenda e frenesi. E basta, que as massas não dão para tudo. Também tenho algumas pérolas, incluindo o Morituri (que livro magistral!), a visita do papa e heterofonia do Pimenta, Pantagruel, Proposta modesta do Swift, mas ainda não consegui encontrar a branca de neve e uma semana noutra cidade. Desde ontem, vou nos 122 da & etc. Se quiseres podemos combinar e, caso um de nós encontre alguma raridade que já tenha, avise o outro. Que tal? Um abraço!

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  4. Claro que sei. E, atenção, a Hiena tem coisas fantásticas (dois exemplos "as magias", versões do Herberto ou "Vão navios cheios de fantasmas" (tradução parcial de "bagatelles pour un massacre" do Céline).

    Parece-me uma excelente ideia.

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