quarta-feira, 29 de julho de 2009

Humor surreal

À expressão "surrealismo" vem logo à cabeça o nome de Breton ou Buñuel e, por cá, Cesariny*.
A referência constante à psicologia como guia e porta aberta para a experimentação deu origem, neste burgo, a algumas obra antológicas. Pese embora não ser temporalmente (publicado pela inefável &Etc no ano da graça de 1981) surrealista, Os segredos da Jacinta, opúsculo inenarrável de Manuel João Gomes, talvez seja uma das obras "surreais" mais curiosas. Afinal, os pastorinhos de Fátima são o mote para um auto de visitação diferente do normal: Jacinta conhecerá o Pexomem, homem da cintura para baixo (e hermafrodita por sinal, o que permite discutir a lendária questão do sexo dos anjos...) e, da cintura para cima, Tritão...
De uma só penada temos a análise perfeita da sociedade lusa: conservadora, clerical, reverente para com as instituições (aqui, a Igrreja, claro está), falsa púdica, oportunista. Em resumo,o humor e o surreal da situação são o mero pretexto para ridicularizar a sociedade de ontem e hoje. Pelo meio, alfinetadas qb à doutrina da Igreja. Tudo bons motivos para se amar ou odiar o livro em questão. Por cá, ama-se.
Ide ler, ide.

* pese embora se atribua a "Apenas um narrativa", de António Pedro o epíteto de primeira obra oficial do surrealismo. Coisa, no mínimo, curiosa dado que é dedicada a Aquilino Ribeiro, homem que em muito se afastou destes cânones. Um destes dias ainda volto a isto.

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