terça-feira, 28 de julho de 2009

O interrogatório

Da experiência docente com que fui brindado, a experiência mais marcante foi (e é) o exame oral. A cada prova feita, a cada aluno que se levantava para ceder o lugar ao próximo, só me vinha à cabeça a sequência de Les 400 coups em que Antoine Doinel é interrogado. Cada aluno que me cumprimentava com um singelo "Bom dia" lembrava os cortes, a imagem de desespero e o alheamento. Ombros encolhidos, olhares distantes e, por vezes, a rezarem pela resposta certa que não chegava, sorrisos inocentes ora dizendo "não estudei isso" ou "muda de assunto". Como é incrível, a mesma situação, gestos universais e todos eles dizendo coisas absolutamente díspares.

1 comentário:

  1. Caro doutor

    Visito o seu blogue pela primeira vez; sou (ainda) estudante na FDL. Não fui seu aluno, mas tive a oportunidade de o ter como júri nas duas orais de melhoria de Direito Comercial (I e II) que fiz no 2º semestre do ano passado - nas quais levei com as suas farpas enervantes (mas estimulantes). Digo-o para explicar o agrado com que li este pequeno texto de impressões suas do exame oral (ou dos alunos no exame oral). Foi com curiosidade que deparei com a evocação de "Les 400 coups" (que vi há demasiados anos para me lembrar com nitidez da cena referida). Queria só deixar uma impressão de quem ainda está deste lado das trincheiras, para lhe transmitir a evocação que por aqui ocorre: a cada oral que faço, não posso evitar sentir que percebo como se sentiu Raskolnikov a ter de responder às perguntas no gabinete do inspector, sabendo que este sabia que era ele o assassino. Talvez o aluno transporte (e goste de transportar) uma culpa dentro de si. De quê? Não sei ainda.
    Sabendo que o tempo é um bem escasso, peço desculpa pelo que lhe tomei.
    PS (ou adenda, ou o que for): O filme, como (quase) todo o Truffaut, é uma delícia de cinema.

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